Economia
16h50 25 Junho 2025
Atualizada em 25/06/2025 às 16h50

Para Iata, governo brasileiro cobra expansão das aéreas, mas segue impondo obstáculos

Por Luiz Araújo* Fonte: Estadão Conteúdo

O vice-presidente para as Américas da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), Peter Cerdá, responsabilizou o governo brasileiro pelas dificuldades enfrentadas pelas companhias aéreas do País. Para o representante, o Executivo tem atuado de forma contraditória na última década, cobrando ampliação do mercado e barateamento de passagens ao mesmo tempo que ignora pautas do setor.

"O governo nos pede mais conectividade, quer mais concorrência e empresas low cost, mas não oferece as condições para isso. A aviação no Brasil é onerada com 25% de imposto sobre passagens, 14% sobre o combustível, que é produzido no País, e enfrenta o ambiente jurídico mais litigioso do mundo", disse ele. "Não é culpa das companhias aéreas. É o governo que falha", afirmou a jornalistas em evento do setor realizado em Bogotá, na Colômbia.

Para Cerdá, a entrada das três maiores companhias brasileiras em processos de recuperação judicial se deu como resultado dos custos de operação elevados e, principalmente, pela inação do governo no período de crise da pandemia de covid-19. "Enquanto o resto do mundo estava resgatando o setor, o governo brasileiro não interveio para ajudar."

Apesar das dificuldades reclamadas, o vice-presidente disse que a atuação das empresas garantiu avanços importantes nos últimos 15 anos. Ele citou o aumento da conectividade, a queda de preços das passagens e o crescimento da malha aérea. Mas ponderou que medidas recentes, como o aumento da carga tributária em 26%, inibem o crescimento e afastam novos players. "Essas companhias que o governo quer atrair (low cost) nunca virão. E as que estão comprometidas com o Brasil terão que cortar voos. Temos que perguntar as razões ao governo."

Na avaliação da Iata, a ausência de uma estratégia governamental consistente transformou o Brasil em um mercado com potencial inexplorado. Cerdá comparou a situação com países como Argentina, Guatemala e Guiana. "Eles tomaram medidas ousadas para tornar a aviação acessível, competitiva e liberalizada. Precisamos que outros sigam o exemplo."

Ainda conforme o representante, o governo brasileiro precisa assumir papel mais ativo e estratégico no setor, chamando atenção para possíveis ajustes no marco regulatório. "E neste momento, eu diria, não por causa das companhias aéreas, mas por causa das regulamentações que temos no Brasil, por causa do governo, estamos falhando", completou Peter Cerdá.

*O repórter viajou a convite da Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata).

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