A Suzano anunciou nesta quinta-feira, 5, que a sua subsidiária, a Suzano International Holding, adquiriu da Kimberly-Clark, por US$ 1,73 bilhão (cerca de R$ 9,8 bilhões), 51% do capital social de uma nova sociedade constituída na Holanda, formando uma joint venture.
A nova sociedade terá o controle de ativos referentes aos negócios (fabricação, distribuição, marketing e venda) de produtos de papéis de higiene, conhecidos como tissue. A Suzano terá uma opção de compra da participação de 49% da Kimberly-Clark na sociedade, que poderá ser exercida três anos após a data do atual acordo.
A operação foi bem recebida pelos investidores, e as ações da Suzano fecharam o dia na Bolsa de Valores (B3) com alta de 6,31%, cotadas a R$ 52,90. O Citi considerou positiva a joint venture com Kimberly-Clark, já que a Suzano vai aumentar a diversificação com a expansão do segmento de tissue, mitigando os riscos com a parceria e mantendo o endividamento sob controle.
O valor da aquisição será pago à vista, em dinheiro, no fechamento da operação, mas está sujeito a determinados ajustes até a conclusão, que deve ocorrer em meados de 2026. O acordo está condicionado à aprovação de autoridades regulatórias e à conclusão da reorganização societária da Kimberly-Clark nas regiões incluídas - os principais ativos do negócio são 22 fábricas de produção de tissue localizadas em 14 países. Em 2023, a Suzano já havia adquirido os ativos de tissue da Kimberly-Clark no Brasil.
Ao comentar a operação, o CEO da Suzano, Beto Abreu, informou que a negociação com a companhia americana começou há nove meses, sem intermediários, e ressaltou que a empresa não subestima o desafio que tem pela frente. "Desde o começo, decidimos que o único caminho seria uma joint venture que pudéssemos controlar, e colocamos a premissa de que tivéssemos a opção de adquirir o restante em três anos", disse Abreu, em teleconferência com analistas.
A operação de joint venture terá capacidade anual total de produção de aproximadamente 1 milhão de toneladas de itens como toalhas de papel, guardanapos, lenços de papel, tanto da linha "familly care" quanto da professional "business", em fábricas situadas nas Américas do Sul e Central, Irlanda, Reino Unido, Europa, África, Oriente Médio, Ásia e Oceania.
Unidades da Kimberly-Clark em alguns países nessas regiões estarão fora da operação, mas algumas marcas regionais da Kimberly-Clark serão transferidas para a sociedade. Já as marcas globais serão licenciadas para a nova operação por um longo prazo e sem pagamento de royalties.
Estratégia
A Kimberly-Clark manterá seus ativos na América do Norte, tal como outras joint ventures com terceiros, em locais fora da nova operação.
"A operação está alinhada à estratégia de longo prazo da Suzano de crescimento com criação de valor e disciplina financeira, em negócios que tenham escalabilidade e nos quais a Suzano possa alavancar sua competitividade", destacou a Suzano em comunicado.
Abreu afirmou aos analistas, no entanto, que o novo negócio exigirá uma pausa em novas aquisições. "Não vejo novas iniciativas de fusões e aquisições em dois ou três anos. Nos próximos anos, temos de focar em entregas, e não em novas aquisições", disse.
Ele ressaltou ainda que o patamar de US$ 3 bilhões para fusões e aquisições, mencionado pela companhia na teleconferência do primeiro trimestre, não foi uma meta, mas um limite. Assim, a companhia não tem de buscar essa cifra em novas transações. Segundo Abreu, os ativos da Kimberly-Clark foram encontrados em boas condições de segurança e operação.
Com a criação da joint venture de produtos de tissue, a celulose vai passar a responder por 60% da receita da empresa - hoje, essa fatia é de 80% -, de acordo com o vice-presidente executivo financeiro da Suzano, Marcos Assumpção.
Para Abreu, o foco hoje da empresa deve ser em competitividade e na busca de digerir os últimos movimentos. "Capex (indicador de investimentos) e alocação de capital são questões de gerenciamento de risco. Compartilhamos valores com a Kimberly-Clark, o que reduz e mitiga riscos", disse.
Sobre o acordo financeiro firmado com a Kimberly-Clark, Assumpção disse que os múltiplos para a opção de compra dos outros 49% da joint venture já estão fechados e são próximos dos praticados na compra anunciada ontem, na qual a Suzano ficou com o controle da nova companhia por um montante de US$ 1,7 bilhão (cerca de R$ 9,5 bilhões).
Segundo o executivo, a Suzano discute nesse momento com a parceira Kimberly-Clark que a joint venture deve assumir um nível de alavancagem (endividamento) que possibilite melhor eficiência ao seu capital.
Assumpção informou ainda que manter a companhia com rating de agências de risco em grau de investimento é uma prioridade. A redução de exposição à celulose, ressaltou ele, que diminui a volatilidade do fluxo de caixa livre da Suzano, é vista com bons olhos por essas agências no longo prazo.
Conclusão do negócio
O CEO da Suzano afirmou que espera que o fechamento da operação ocorra em meados de 2026, após a aprovação de órgãos reguladores, da reorganização corporativa e criação da joint venture, bem como das definições da estrutura organizacional da nova empresa.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.