Marc Cucurella é uma das caras do novo Chelsea, que se reformula desde a venda do clube do russo Roman Abramovich para o norte-americano Todd Boehly, em 2022. O espanhol de 26 anos é uma das lideranças do time, cuja média de idade variou de 23,9 a 24,6 anos neste Mundial de Clubes.
A importância que ganhou no Chelsea, somada à participação direta no título da Eurocopa da Espanha em 2024, alavanca o lateral-esquerdo a um ídolo tanto no seu país natal, quanto no oeste de Londres.
Visitando Nova York pela primeira vez enquanto participa do torneio, Cucurella disse que tem se divertido com os companheiros nas viagens pelos Estados Unidos. "Temos jogado vídeo game, Uno e, às vezes, pingue-pongue. Devo dizer que, no pingue-pongue, acho que sou muito bom. No Uno, não sou tão bom. Temos um grupo que joga - Andrey, Moi, Nico, Pedro, Filip e, às vezes, Robert - mas eles trapaceiam muito", brincou, em entrevista ao site do Chelsea.
Fora da Espanha e de Londres, Cucurella tem sido capaz de despertar ódio dos rivais. O estilo provocador irritou brasileiros neste Mundial, enquanto uma polêmica contra os alemães já o fazia persona non grata por lá. "Se eu pegar esse Cucurella na Champions League pelo Olympiacos neste ano... esse Cucurella está me irritando, meu Deus", desabafou Rodinei, ex-Flamengo, sobre a catimba do jogador enquanto os ingleses venciam por 1 a 0, na fase de grupos.
PROTAGONISTA NA EUROCOPA E ODIADO PELOS ALEMÃES
Quando a delegação espanhola chegou a Madri com a taça da Eurocopa, o garoto Lamine Yamal e o técnico Luis de la Fuente foram os nomes mais aplaudidos. Cucurella veio na sequência. Ele próprio chamava o público para cantar uma música feita ainda na época em que jogou no Brighton, da Inglaterra, para provocar Haaland, do Manchester City.
O personagem de longos cabelos encaracolados virou xodó dos torcedores espanhóis. Ele chegou à Alemanha para a disputa da Eurocopa como opção para Alejandro Grimaldo, mas foi escolhido como titular para a estreia, uma vitória por 3 a 0 sobre a Croácia. Ao final da campanha, Cucurella só não havia iniciado uma partida: a terceira rodada da fase de grupos, contra a Albânia, quando os espanhóis já estavam classificados.
O duelo contra a Alemanha, pelas quartas de final, colocou os holofotes negativos no lateral. A partida era entendia como uma "final antecipada" e terminou empatada por 1 a 1, encaminhando a prorrogação.
Aos 23 minutos do tempo extra, Musiala bateu de frente para o gol. A bola atingiu o braço de Cucurella, mas o árbitro inglês Anthony Taylor mandou o jogo seguir. Cucurella, depois, admitiu o toque, mas afirmou que concordou com o juiz e com especialistas que apontavam não haver erro.
A forma cômica com que o jogador relatou a situação ajudou a atrair mais fãs espanhóis. "Pensei: 'Meu Deus, que susto! Molhei as calças'. Olhei para o árbitro e o vi com certeza: 'Não é pênalti!'. Disse a mim mesmo: 'Calma'".
Na semifinal, diante da França, o jogador foi vaiado pela torcida de Munique a cada vez que tocava na bola. Contra a Inglaterra, na decisão, foi Cucurella quem deu o passe para o gol do título, marcado por Oyarzabal.
Três meses depois, a Uefa reconheceu que houve erro no apito entre Espanha e Alemanha. Toni Kroos, que se aposentava da seleção, reclamou: "Eles levaram três meses para perceber o que viram em um segundo".
CUCURELLA É CRIA DO BARCELONA E LÍDER BEM-HUMORADO
Marc Cucurella é nascido na Catalunha e foi mais um dos talentos forjados em La Masia, a base do Barcelona. O jogador, porém, nunca teve boas oportunidades no time principal e foi emprestado a Eibar e Getafe, que o comprou por 10 milhões de euros (R$ 61,5 milhões, na cotação da época), em 2020.
Já em agosto de 2021, ele migrou para a Inglaterra, onde jogou a primeira temporada pelo Brighton. Ao fechar um ano, o Chelsea desembolsou 62 milhões de libras (R$ 386 milhões, na época) pelo jogador, que hoje é um líder do elenco. "Adoro trazer energia e um pouco de humor para a equipe. Nem eu sei como tenho tanta energia, mas tento fazer algumas piadas e trazer alegria porque acho isso muito importante", conta.
LATERAL TEM SIDO "PEDRA NO SAPATO" DE BRASILEIROS E BASE DE ESPANHA INVICTA
O espanhol cita o jogo contra o Palmeiras, pelas quartas de final, como um símbolo do vínculo que os jogadores do Chelsea criaram. "Ficou evidente no jogo contra o Palmeiras. No primeiro tempo, dominamos e, no segundo, mesmo sofrendo gols, nos mantivemos unidos. Isso tem sido muito importante e um tema central ao longo deste torneio", avalia.
Para os palmeirenses, porém, a visão foi outra. Cucurella marcou Estêvão, que sofreu com o futuro companheiro. Houve até provocação do espanhol após uma tentativa de drible do garoto.
O ex-jogador Felipe Melo comentou o lance. "Se eu estou no campo em um jogo como esse...", disse já arrancando risadas dos colegas em programa do SporTV.
"Eu estava lá comendo minha pizza e estava maluco. Não pode um jogador que, daqui a pouco, vai estar com ele (Estêvão) lá no Chelsea, depois de uma pedalada normal, ele querer entrar na mente do garoto. Quem sou eu para falar? Sempre fiz muito isso, gostava, mas, se estivesse dentro de campo, iria defender meu companheiro, chegar no Cucurella, pelo menos um puxão de cabelo ele ia tomar", concluiu.
Enquanto "provoca" brasileiros, Cucurella é fundamental para a Espanha, que não perde com ele em campo há 20 jogos. A última derrota da seleção foi em 22 de março de 2024, em um amistoso contra a Colômbia (1 a 0). Ele estava no banco. Já em partidas oficiais, o último revés foi em 28 de março de 2023, com um 2 a 0 para a Escócia, pelas Eliminatórias da Eurocopa.
Cucurella já havia sido convocado em 2021, mas como parte do elenco sub-21 para cumprir uma Data Fifa do time principal, com objetivo de evitar contágios de covid-19 antes da Eurocopa daquele ano. O lateral ficou no banco diante da Colômbia. Ele disputou um jogo inteiro pela primeira vez contra o Brasil, no empate por 3 a 3, em 2024. Foi ali que se iniciou a sequência invicta da equipe espanhola.