Três pessoas foram a julgamento na África do Sul nesta segunda-feira, 15, após serem acusadas de arrombamento e de roubar US$ 580 mil (cerca de R$ 3 milhões na cotação atual) em notas que estavam escondidas em um sofá em uma fazenda Phala Phala, que pertence ao presidente Cyril Ramaphosa.
O caso inusitado envolveu Ramaphosa em um escândalo e quase lhe custou o cargo, depois que ele foi acusado de sonegação de impostos, lavagem de dinheiro e violação das leis de câmbio. Ele também foi acusado de tentar esconder a existência do dinheiro, já que o suposto roubo aconteceu em 2020, mas só veio a público dois anos depois. O caso foi apelidado de "farmgate" na África do Sul - "crise da fazenda", em tradução livre.
Ramaphosa, que fez campanha com uma plataforma anticorrupção, foi inocentado de irregularidades e sobreviveu a uma votação no Parlamento sobre a abertura de um processo de impeachment contra ele, mas continua sendo investigado quanto ao motivo de uma quantia tão grande de dinheiro estar guardada em um móvel.
Dinheiro no sofá
Ramaphosa afirmou que o dinheiro veio da venda legítima de animais em sua fazenda de caça e gado Phala Phala, na província de Limpopo, no norte do país, mas não explicou por que foi escondido em um sofá. Os três réus - dois homens e uma mulher que trabalhava como faxineira na fazenda - são acusados de arrombar e roubar o dinheiro em fevereiro de 2020. Eles se declararam inocentes das acusações no primeiro dia do julgamento, nesta segunda-feira, 15.
O chefe da inteligência
O caso veio à tona quando o ex-chefe da agência de inteligência do Estado foi a uma delegacia em junho de 2022 e apresentou uma queixa contra Ramaphosa. O chefe da espionagem, Arthur Fraser, acusou Ramaphosa de esconder US$ 4 milhões no sofá e de usar sua equipe policial de segurança pessoal para rastrear os ladrões e suborná-los para que ficassem em silêncio sobre o dinheiro.
Ramaphosa e as autoridades contestaram o valor de US$ 4 milhões. Fraser disse ter fornecido à polícia "provas de apoio" na forma de fotos, vídeos e informações de contas bancárias ligadas ao suposto roubo. O papel de Fraser no escândalo também se tornou motivo de intriga porque ele é aliado do ex-presidente Jacob Zuma, o homem a quem Ramaphosa sucedeu na presidência e seu ferrenho rival político. Zuma foi forçado a renunciar em 2018 devido a acusações de corrupção e, desde então, tem sido crítico de Ramaphosa.
O escândalo do presidente
O caso alimentou alegações de corrupção contra Ramaphosa. Embora as investigações da polícia e das autoridades financeiras do país o tenham inocentado, ele ainda precisou do apoio da maioria do seu partido no Parlamento para barrar uma tentativa de impeachment em dezembro de 2022. Ramaphosa negou ter tentado esconder o suposto roubo da polícia e disse que o relatou ao chefe de sua equipe de proteção policial.
Três anos após o escândalo vir a público, o julgamento dos três suspeitos deve ser acompanhado de perto em busca de qualquer envolvimento do presidente no caso. Ramaphosa foi reeleito para um segundo mandato no ano passado, embora apenas depois de o seu Congresso Nacional Africano, no poder há 30 anos, perder a maioria parlamentar e ser obrigado a formar um governo de coalizão.
O processo judicial
O julgamento dos réus Imanuwela David, Ndilinasho Joseph e sua irmã Froliana Joseph foi adiado várias vezes, inclusive para que Froliana pudesse dar à luz. Todos são acusados de arrombamento, conspiração para cometer arrombamento e roubo. David também enfrenta acusações de lavagem de dinheiro. Os promotores esperam que o julgamento dure três semanas e afirmam que vão convocar 20 testemunhas, incluindo funcionários que trabalhavam na fazenda de Ramaphosa. (Com informações da Associated Press)
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