A chefe de ratings soberanos da Fitch Ratings para Américas e Ásia, Shelly Shetty, disse que a agência não prevê no curto prazo a volta do Brasil ao grupo dos países com as melhores notas de risco de crédito, o chamado grau de investimento. Durante evento da Fitch em São Paulo, Shelly avaliou que a credibilidade da política fiscal brasileira ainda não se consolidou entre investidores, e o País apresenta hoje métricas de crédito, como a relação dívida e Produto Interno Bruto (PIB), piores do que em 2015, quando a agência de rating tirou do Brasil o selo de investment grade.
"Não vemos o Brasil alcançando o grau de investimento no curto prazo", declarou a diretora da Fitch, que em junho reiterou o rating do País em "BB", dois degraus abaixo do grau de investimento, com perspectiva estável. Ou seja, não há previsão de mudança da nota nos próximos meses.
Segundo Shelly, o Brasil tem âncora e metas fiscais, assim como mostrou bons números de crescimento econômico nos últimos anos, o que é positivo. Mas o País, ponderou, não tem conseguido entregar superávits primários - isto é, gasta mais do que arrecada, levando, ano após ano, a questionamentos do mercado sobre a credibilidade fiscal.
A consolidação fiscal no Brasil, pontuou, poderá ficar ainda mais complicada se o País enfrentar uma desaceleração mais acentuada ou mesmo entrar em recessão. As metas fiscais são muito dependentes da arrecadação pública.
Ela frisou que a nota do Brasil, apesar das incertezas globais trazidas, principalmente, pelas tarifas americanas, está bem fundamentada, refletindo tanto as forças, como o crescimento e solidez das contas externas, quanto as vulnerabilidades da economia brasileira, caso do crescimento da dívida pública e de um déficit fiscal que segue alto em meio à rigidez orçamentária.
A diretora da Fitch ressaltou que reformas que levem a uma maior confiança na estabilização da dívida no médio prazo podem ajudar o País a melhorar sua nota de risco de crédito. Por outro lado, a nota pode sofrer uma ação negativa se o País for em direção a uma dívida ainda mais explosiva. Nesse ponto, ela chamou a atenção ao risco de o governo cair na tentação de ampliar os estímulos fiscais se enfrentar no ano que vem uma eleição disputada e com a economia em desaceleração.