A falta de consenso para firmar o primeiro tratado internacional contra a poluição plástica é um "péssimo indicativo" para a COP30, que será realizada em novembro, em Belém, afirma o secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini.
Após 11 dias de negociações com representantes de 184 países na sede da ONU em Genebra, na Suíça, a quinta rodada de discussões sobre o tratado debatido desde 2022 terminou em um impasse na última sexta-feira, 15.
Países produtores de petróleo (como Rússia, Arábia Saudita, Irã, Kuwait) e plástico (como Estados Unidos) rejeitam medidas que limitariam a produção e o uso único do material, assim como a proibição de componentes tóxicos.
Segundo Astrini, a briga nas negociações acaba sendo transferida para conferências maiores, como a COP, sobre mudanças climáticas. "Tem reflexos", afirmou em sua coluna semanal na Rádio Eldorado, do Grupo Estado.
Assim como no acordo do plástico, países petroleiros tentam retardar decisões nas COPs sobre como e em quanto tempo nações devem se afastar dos combustíveis fósseis para reduzir emissões de gases de efeito estufa e limitar o aquecimento do planeta.
Países importantes ainda não entregaram meta climática
Apenas 27 dos 198 países signatários do Acordo de Paris submeteram novas metas climáticas (designadas pela sigla NDC, em inglês, para contribuição nacionalmente determinada) até agora, restando três meses para a COP30.
O acordo climático de 2015 tornou a apresentação dessas metas obrigatórias a todos os países, com atualizações a cada cinco anos. O prazo de entrega para a ONU ia até fevereiro de 2025. Mesmo aqueles que a cumpriram apresentaram promessas insuficientes, segundo Astrini.
Atores importantes como China, Índia, Indonésia e União Europeia ainda estão devendo. Outros, como Brasil, Noruega e Japão, entregaram metas pouco ambiciosas, enquanto o Canadá retrocedeu nas promessas.
Só o Reino Unido avançou, se comprometendo a reduzir em 91% as emissões de GEEs. "Existe uma crise muito grande nessa agenda de clima e os países não estão assumindo o papel deles. Está ficando difícil manter aquecida essa esperança de ter a entrega no nível necessário para evitar catástrofes maiores", avalia Astrini.
A entrega das metas permite à ONU elaborar um relatório síntese que mede a eficácia das promessas feitas pelos países e calcula a qual cenário de aquecimento elas levam.
Com a demora, essa leitura provavelmente não será concluída a tempo da conferência de novembro no Brasil, segundo o secretário-executivo do Observatório do Clima.