O Ministério Público de São Paulo denunciou nesta segunda-feira, 18, o prefeito de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, Marcelo Lima (Podemos), por organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro. Ele foi afastado do cargo na semana passada na Operação Estafeta.
Também foram denunciados o vereador Danilo Lima Ramos (Podemos), o suplente de vereador Ary José de Oliveira (PRTB), o secretário municipal de Coordenação Governamental Fabio Augusto do Prado, o ex-secretário municipal de Administração Paulo Sérgio Guidetti e Paulo Iran Paulino Costa, apontado como operador de propinas.
Até a publicação deste texto, o Estadão buscou contato com as defesas, mas sem sucesso.
A denúncia é assinada pelo procurador-geral de Justiça de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, que atribui ao grupo participação em um esquema de desvio de recursos em contratos da prefeitura. As penas podem chegar a 8 anos de prisão em caso de condenação.
O Ministério Público também pede ao Tribunal de Justiça de São Paulo a perda definitiva dos mandatos e a devolução de R$ 16,9 milhões aos cofres municipais.
De acordo com a denúncia, o esquema teve início em 2022 e "se sustenta na obtenção de contratos públicos e no desvio de recursos por meio de empresas que mantêm vínculos formais com a prefeitura e a Fundação ABC".
Segundo a denúncia, p prefeito "emerge como o eixo articulador e a figura central da organização criminosa, exercendo um papel de influência direta sobre as movimentações financeiras ilícitas".
"Ele exerce um papel de comando e possui domínio finalístico sobre o fluxo de recursos e a contabilidade informal do esquema", afirma o MP.
Contratos de diversas áreas, como saúde, obras e coleta de lixo, teriam sido fraudados, segundo o inquérito.
As investigações começaram em julho de 2025, a partir da apreensão de R$ 14 milhões em espécie no apartamento de Paulo Iran. A PF classificou o imóvel como um "verdadeiro bunker" de dinheiro.
Os policiais federais também encontraram no endereço comprovantes de pagamento de despesas pessoais do prefeito e da família dele, como faturas do cartão de crédito e contas telefônicas, e planilhas de controle dos gastos: "3.430,00 boleto", "39.445,00 apto", "5.000,00 personal" e "5.880,00 Zana". Zana, de acordo com a Polícia Federal, é Rosângela dos Santos Lima Fernandes, a primeira-dama.
Segundo a investigação, o operador era responsável por receber propinas pagas por empresários em troca de vultuosos contratos com a administração municipal e usava o dinheiro para pagar gastos pessoais de Marcelo Lima e de sua família.
A análise de documentos, celulares, computadores e anotações apreendidas com Paulo Iran trouxe à tona "informações cruciais", segundo o Ministério Público.
No celular do operador havia conversas com o prefeito desde julho de 2022. Marcelo Lima mensagens como: "tudo entra na tua conta agora", "vai guardando", "anote tudo para posterior acerto", "vai controlando lá no documento, no papel, a gente resolve depois", "manda aquela lista do que tem para entrar para mim", "a conta de água você já pagou?", "consegue fazer esse Pix para mim?, "mande 5 para a Zana".
Paulo é descrito na investigação como "um agente central na arrecadação e distribuição de valores provenientes de diversas empresas que possuem contratos com a prefeitura de São Bernardo do Campo".