Política
18h40 08 Julho 2025
Atualizada em 08/07/2025 às 18h40

'O deputado Júnior Mano concede as emendas e Bebeto do Choró lava', denunciou ex-prefeita no CE

Por Nino Guimarães e Fausto Macedo Fonte: Estadão Conteúdo

A Operação Underhand, que põe o deputado Júnior Mano (PSB-CE) no centro de uma investigação sobre esquema de desvio de emendas parlamentares para fraude eleitoral em pelo menos 50 municípios cearenses, teve origem nas revelações de uma mulher de 65 anos, Rozário Ximenes.

Ex-prefeita de Canindé, viúva do radialista Ximenes Filho - morto em 2014 -, Rozário denunciou ao Ministério Público do Ceará e também em entrevista ao Estadão suposto conluio entre Júnior Mano e Bebeto do Choró (PSB), prefeito eleito de Choró, para 'lavar' verbas de emendas via licitações forjadas e superfaturadas. O dinheiro arrecadado teria abastecido campanhas eleitorais de aliados do grupo ligado a Júnior Mano em 2024.

Até a publicação deste texto, o Estadão pediu manifestação do deputado, mas sem sucesso. Já Bebeto do Choró não foi localizado pela reportagem. O espaço está aberto.

Júnior Mano é o alvo principal da Operação Underhand, deflagrada nesta terça, 8. Agentes da Polícia Federal fizaram buscas em seu gabinete na Câmara e em outros 15 endereços, por ordem do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.

O ministro decretou o bloqueio de R$ 54,4 milhões de Júnior Mano e de outros alvos do inquérito.

Rozário Ximenes se encorajou em denunciar o esquema das emendas quando identificou o avanço das campanhas eleitorais do ano passado que tiveram apoio de Júnior Mano e Bebeto do Choró. Ela pretendia eleger seu sucessor na prefeitura de Canindé, cargo que ocupou por dois mandatos sucessivos (2017-2024), mas quem levou foi o candidato de oposição, Professor Jardel, ligado a Choró.

Ao constatar os métodos e o poder financeiro dos rivais, Rozário bateu à porta do Ministério Público do Ceará, em setembro de 2024. Ela detalhou os laços de Carlos Alberto Queiroz Pereira, o Bebeto do Choró, e o parlamentar federal.

Segundo Rozário, a trama envolveu empresas ligadas a Bebeto, a administração de 51 prefeituras e Júnior Mano, a partir do envio de emendas parlamentares para que fossem desviadas em favor de candidatos ligados ao núcleo político.

O plano, afirmou Rozário aos promotores, consistia no gasto de pelo menos R$ 58 milhões nas eleições de 2024 para impulsionar candidatos aliados por meio do financiamento de carros, combustíveis, brindes e compra de votos.

Em entrevista ao Estadão, em janeiro passado, a ex-prefeita de Canindé - município com 74 mil habitantes a 100 quilômetros de Fortaleza - disse que Bebeto tinha pleno acesso nas prefeituras 'a mando do deputado federal Júnior Mano'.

Ela contou que o esquema fez uso de empresas associadas a Bebeto do Choró, registradas em nome de laranjas e de empresários aliados, para vencer licitações e desviar os recursos para uso em caixa dois e compra de votos.

"Bebeto trabalha para cinquenta e uma prefeituras, juntamente com Júnior Elmano", ela declarou ao Estadão. "O deputado concede as emendas, manda pra ele (Choró) e ele lava. A lavagem consiste em contatar o gestor, oferecendo como exemplo um milhão com retorno de quinze por cento pra ele."

A Justiça Eleitoral no Ceará impediu a posse de Bebeto na prefeitura de Choró. A decisão atendeu a um pedido do Ministério Público do Estado, que requereu a cassação do prefeito após a Polícia Federal resgatar diálogos atribuídos ao braço direito de Júnior Mano.

'Abuso de poder econômico'

Em um áudio que consta do inquérito da Operação Underhand, o prefeito 'reclama do preço a pagar pelos votos, indicando que estava muito caro'.

"Mas só para votar... ele é doido, é caro demais, mano... ele consegue quantos votos?", disse Bebeto em 29 de setembro, às vésperas do primeiro turno das eleições, que ocorreu no dia 6 de outubro. O interlocutor 'mano', com quem Bebeto do Choró conversava, seria o deputado, acreditam os investigadores.

Com base nas conversas interceptadas e depoimentos colhidos no inquérito, a PF suspeita que Bebeto do Choró operava com uma 'complexa teia de interesses'. O inquérito destaca o 'espectro de sua influência eleitoral, a compor a abrangência do abuso de poder econômico'.

O pedido de remessa dos autos ao STF foi acolhido pelo juiz Flávio Vinícius Bastos Sousa, da 3ª Zona Eleitoral do Ceará. O inquérito está nas mãos do ministro Gilmar Mendes.

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