Pode soar até estranho escrever que Messi deu errado. Mas seria irreal dizer que o craque foi um sucesso no Paris Saint-Germain. Neste domingo, o argentino reencontra o ex-clube, no Mercedes-Benz Stadium, em Atlanta, pelas oitavas de final do Mundial de Clubes.
O próprio Messi já admitiu que não gostou da experiência em Paris. Ídolo do Barcelona, ele não queria deixar a Catalunha e despediu-se apenas porque o clube não poderia mais arcar com seu salário, conforme o teto de gastos do Campeonato Espanhol.
"Não era algo que eu queria. Foi uma mudança da noite para o dia, porque tive de deixar o Barcelona. Tive de me acostumar rapidamente a um novo lugar depois de tantos anos em Barcelona", lamentou, já após ter saído de Paris, em entrevista coletiva, antes de amenizar, avaliando que a convivência com as pessoas na França era positiva.
Mesmo que tenha atenuado a chateação, Messi já foi mais direto ao resumir seu tempo de PSG, quando consolidou sua transferência para o Inter Miami. "Aqueles dois anos não me deram prazer, não estava feliz no dia a dia. Não estava satisfeito com nenhum dia, com os treinos, com as partidas", desabafou o jogador, que chegou a ser vaiado por torcedores do PSG cobrando-o por comprometimento.
Em campo, foram três conquistas, o Campeonato Francês de 2021/22 e a de 2022/23, além da Supercopa da França de 2022. O problema é que isso era mais do mesmo quando se tratava de PSG, obcecado pela Liga dos Campeões e ainda sem a taça, que veio somente sem o argentino e sem os demais astros como Neymar e Mbappé.
Messi deixou o clube francês com 32 gols em 75 jogos (média de 0,42 gol por jogo). É praticamente a metade da média que ele tinha no Barcelona (0,86 gol/jogo). Agora, nos Estados Unidos, o camisa 10 ostenta o índice de 0,80 gol/jogo pelo Inter Miami.
A reunião de estrelas foi um dos muitos movimentos do presidente do PSG, o catari Nasser Al Khelaifi, em busca do título continental. Ter reunido o trio pode ser considerado o auge dessas movimentações.
Apenas depois da saída dos três, entendeu-se que não houve harmonia que potencializasse a soma dos talentos. Neymar, por exemplo, apontou o comportamento de Mbappé como um problema.
"A gente teve uma briguinha aí. A gente teve bons anos de parceria, mas depois que veio o Messi, acho que ele ficou um pouco enciumado, não queria me dividir com ninguém (risos), e aí começou com brigas, mudança de comportamento", contou em entrevista à Romário TV.
O primeiro a sair foi Messi, em junho de 2023. Depois, Neymar, em agosto. Por fim, e com polêmica, Mbappé deixou o clube em maio de 2024, rumo ao Real Madrid. Hoje o time não tem uma figura que destoe em protagonismo.
"A equipe hoje é a estrela. Nós temos jovens jogadores, mas jogadores de grande qualidade e confiança. Hoje nós temos um time muito forte, que joga junto, que luta junto, não só dentro de campo, mas também fora. O ambiente é magnífico", comemorou Nasser Al Khelaifi, ainda antes do título da Liga dos Campeões.
Luis Enrique tem papel importante nessa renovação. Quando ele chegou a Paris, em julho de 2023, teve conversas com Nasser e o diretor esportivo, o português Luís Campos, para alinhar o perfil de contratações e saída de atletas. Foi justamente neste momento que Neymar deixou o PSG após seis temporadas.
Messi, portanto, não deixou saudade. Ainda que respeitado, o argentino terá vida dura contra o ex-clube. "Passei dois anos fantásticos com ele. Jogamos com o melhor do mundo. Espero que ganhemos, porque ele já ganhou muitos títulos", brincou o goleiro Donnaruma.
Hakimi dá menos espaços para brincadeiras. "Passamos dois anos com ele. Vivemos momentos muito bonitos, mas uma vez dentro de campo já não somos mais amigos", disse o lateral marroquino.
REENCONTRO
Messi e Luis Enrique viveram um passado de glórias em Barcelona. O argentino, com Luis Suárez, Jordi Alba e Mascherano, foi campeão da Liga dos Campeões sob comando do técnico. Entre outros títulos, eles também levaram o Mundial de 2025. Hoje o quarteto está em Miami, e o ex-volante é o comandante.
Messi deixou o PSG um mês e dois dias antes de Luis Enrique assumir o time. Apesar do sucesso dos dois juntos no Barcelona, não se tem como saber se a contratação do espanhol seria efetivada caso o argentino ainda estivesse em Paris.
A relação entre os dois é incerta, já que ambos tiveram atritos no passado. Em 2015, antes das conquistas, Luis Enrique deixou Messi no banco em uma partida do Espanhol. O camisa 10 havia sido o último do elenco a retornar do período de férias, o qual havia passado na Argentina.
O então zagueiro Jérémy Mathieu foi o responsável por vazar o suposto descontentamento do craque. Coincidentemente, a figura apaziguadora, é contado, foi Mascherano. Página de um passado ou não, Messi irá rever, mais do que o PSG, quando entrar em campo no Mercedes-Benz Stadium.
AMIGOS DO MESSI
Após desembarcar na Flórida, Messi iniciou o trabalho para levar seus companheiros consigo. Também chegaram por lá Sergio Busquets, Jordi Alba, Luis Suárez e, mais recentemente, Javier Mascherano, na casamata.
O próprio Messi foi determinante na fase de grupos do Mundial, com o gol da virada sobre o Porto na segunda rodada. Já Suárez deu assistência e marcou no empate contra o Palmeiras.
Além do "quarteto", Messi tem um time de devotos. O craque é capaz de mobilizar os jogadores que vestem rosa como se fossem soldados a dar a vida por ele. Acontece que a habilidade de luta do Inter Miami é limitada.
Messi fez o mesmo fenômeno em 2022, quando levou a Argentina ao título da Copa do Mundo. No time, porém, estavam jovens que tinham o capitão como ídolo. E, entre todo o elenco, havia mais talento e um grupo muito mais forte do que Messi dispõe atualmente.
Ainda assim, um trunfo do Inter Miami é a mobilização promovida por seu camisa 10, dos garotos aos mais experientes. "Vê-lo jogar, como ele compete e a garra que ele tem... bem, ele pode continuar jogando por muito mais tempo, contanto que seu corpo aguente", comentou Alba sobre Messi após o empate contra o Palmeiras. "Ele é como uma criança e continua fazendo a diferença."
É esse um dos motivos que faz Alba questionar: "Por que não sonhar?", quando é questionado sobre o duelo contra o PSG. Isso mesmo após definir Luis Enrique como "o melhor técnico do mundo".
"Vamos tentar competir, sabendo o quão difícil será contra o time que, para mim, joga o melhor futebol da Europa. Eles são os atuais campeões europeus e será desafiador, mas vamos jogar para vencer", prometeu.
Com os pés mais próximos do chão, Luis Suárez cobra melhoras. "Se cometermos esses erros (do jogo do Palmeiras) contra o PSG, pagaremos caro por isso. Obviamente, nesse tipo de torneio, sempre há favoritos, isso é fato. Estamos enfrentando os campeões europeus e teremos que correr riscos", projetou o camisa 9.
O duelo deste domingo é o primeiro na história entre PSG e Inter Miami. Quem vencer vai encarar, nas quartas de final, o vencedor de Flamengo e Bayern, novamente no Mercedes-Benz Stadium, em Atlanta.