Política
15h50 19 Maio 2025
Atualizada em 19/05/2025 às 15h50

Portugal: a vitória da centro-direita, o avanço da direita radical e a derrocada da esquerda

Por Daniel Gateno Fonte: Estadão Conteúdo

Um dia depois da terceira eleição legislativa em três anos, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, vai convocar os líderes dos partidos para consultas. O pleito não mudou o primeiro-ministro, já que Luís Montenegro segue no cargo em um governo minoritário, mas mostrou um avanço ainda maior do Chega, da direita radical, e o pior resultado para o Partido Socialista desde 1987.

A coligação Aliança Democrática (AD), de centro-direita, conquistou 89 cadeiras na Assembleia Nacional, que tem 230 assentos. Apesar da vitória, a coligação de Montenegro ficou muito longe de uma maioria parlamentar e o primeiro-ministro segue vulnerável aos partidos de oposição que derrubaram seu governo em março, após menos de um ano no poder.

"Os portugueses não querem mais eleições antecipadas", disse Montenegro, na noite de domingo, 18, em um apelo aos partidos de oposição para que o deixassem cumprir um mandato completo de quatro anos.

"Todos nós precisamos ser capazes de falar uns com os outros e colocar o interesse nacional em primeiro lugar", disse ele.

A coligação de Montenegro poderia fazer um acordo com o Chega para formar uma maioria, mas o primeiro-ministro reiterou o seu compromisso de não formar um governo com o partido da direita radical.

Os portugueses foram chamados às urnas após Montenegro perder a confiança do Parlamento em março, devido a crescentes dúvidas sobre as atividades comerciais de sua família.

O início da crise política começou com uma denúncia envolvendo uma empresa de consultoria chamada Spinumviva, que é da família de Montenegro. A companhia teria recebido pagamentos de um grupo de cassinos, o que gerou dúvidas sobre possíveis conflitos de interesse devido à posição de Montenegro. O primeiro-ministro negou as acusações e disse que vendeu sua parte da empresa a sua esposa.

O resultado do Chega quebrou com o domínio dos partidos tradicionais, em uma tendência semelhante ao que ocorreu com legendas da direita radical na França, Itália e Alemanha.

Nos últimos 50 anos, os Sociais-Democratas e o Partido Socialista, de centro-esquerda, têm alternado o poder em Portugal.

O Chega conquistou o mesmo número de assentos que os Socialistas - 58 - e ainda pode conquistar o segundo lugar quando os quatro assentos restantes, decididos por eleitores que moram fora de Portugal, forem atribuídos nos próximos dias.

"O sistema bipartidário acabou", disse Ventura, que atuou como advogado e comentarista de futebol antes de entrar na política.

O Chega disputou sua primeira eleição há apenas seis anos, quando conquistou uma cadeira, e se alimentou da insatisfação com os partidos tradicionais mais moderados.

Com o slogan "Salve Portugal", o partido se descreve como uma legenda nacionalista e tem se concentrado em conter a imigração e combater a corrupção, que tem contribuído com a ascensão do Chega, devido a vários escândalos envolvendo políticos tradicionais nos últimos anos.

A corrupção também afetou o próprio Chega, já que um de seus parlamentares é suspeito de roubar malas do aeroporto de Lisboa e vender o conteúdo online, e outro supostamente falsificou a assinatura de uma mulher falecida. Ambos renunciaram.

Imigração

O Chega deve muito do seu sucesso às suas reivindicações por uma política de imigração mais rigorosa.

Em 2018, havia menos de meio milhão de imigrantes legais no país, segundo estatísticas do governo. Atualmente, cerca de 1,5 milhão de imigrantes legais vivem em Portugal, muitos deles brasileiros e de países da Ásia como Índia, Nepal e Bangladesh.

Milhares de imigrantes ilegais também moram em Portugal. Duas semanas antes das eleições, o governo de Montenegro anunciou que estava expulsando 18 mil imigrantes que viviam no país sem autorização. O momento do anúncio gerou acusações de que a Aliança Democrática estaria tentando atrair votos do Chega.

Crise imobiliária

A crise imobiliária que o país enfrenta também esteve na cabeça dos eleitores durante o período eleitoral.

Os preços dos imóveis e os aluguéis vêm disparando nos últimos 10 anos, em parte devido à chegada de trabalhadores estrangeiros, que impulsionaram os preços.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística, um órgão do governo de Portugal, os preços dos imóveis subiram mais de 9% no ano passado. Os aluguéis na capital Lisboa e arredores, onde vivem cerca de 1,5 milhão de pessoas, registraram no ano passado o maior aumento em 30 anos, subindo mais de 7%, informou o instituto.

O problema é agravado pelo fato de Portugal ser um dos países mais pobres da Europa Ocidental.

O salário médio mensal no ano passado era de cerca de 1.200 euros antes dos impostos, segundo a agência de estatísticas. O salário mínimo estabelecido pelo governo este ano é de 870 euros por mês antes dos impostos.

Crise na esquerda

A legenda que saiu mais enfraquecida do pleito foi o Partido Socialista, que teve o seu pior resultado desde 1987. O líder da legenda, Pedro Nuno Santos, renunciou ao cargo e uma nova liderança deve assumir para o próximo período legislativo.

O partido tinha 78 cadeiras no último Parlamento, o mesmo número da Aliança Democrática (AD), mas conseguiu apenas 58 nas últimas eleições, o mesmo número do Chega.

O número exato de cadeiras de cada partido ainda não é definitivo, dependendo dos votos de portugueses no exterior. Estes votos irão definir qual será a segunda maior bancada do Parlamento.

Outros partidos de esquerda também perderam votos. O Bloco de Esquerda tinha cinco cadeiras no último Parlamento e nestas eleições conquistou apenas uma.

Já a Coligação Democrática Unitária, formada pelo Partido Comunista Português e o Partido Ecologista, caiu de quatro para três cadeiras. (COM INFORMAÇÕES DA AP)

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