Conflitos
08h30 23 Junho 2025
Atualizada em 23/06/2025 às 08h30

Irã acusa Trump de traição, descarta diplomacia e ameaça rota de petróleo

Por Redação, O Estado de S. Paulo Fonte: Estadão Conteúdo

O governo do Irã acusou neste domingo, 22, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de traição e declarou que os americanos decidiram destruir a diplomacia ao bombardear as instalações nucleares do país. Em retaliação, Teerã ameaça bloquear o Estreito de Ormuz, que escoa cerca de 20% da produção mundial de petróleo. A crise levou o preço do barril a US$ 80 pela primeira vez em um ano.

Na TV estatal iraniana, um comentarista chegou a dizer que todo cidadão americano ou militar na região é agora um alvo legítimo. Pouco depois do bombardeio, o Irã realizou novos ataques com mísseis balísticos contra Israel. Ao menos 11 pessoas ficaram feridas em uma área residencial de Tel-Aviv.

O ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, disse ontem que o Irã tem "muitas opções" para responder ao ataque. Apesar de não oferecer detalhes, a declaração levantou o temor de uma ação contra as bases militares americanas espalhadas nos países do Golfo Pérsico. Pelo menos um deles, o Bahrein, emitiu alerta máximo de cuidado e ordenou que seus funcionários trabalhassem de casa.

Araghchi classificou o ataque como traição de Trump contra o Irã no momento em que os dois países negociavam um acordo em torno do programa nuclear iraniano, que Teerã diz ter fins pacíficos. O chanceler afirmou que o presidente americano também enganou os próprios eleitores, depois de fazer campanha com a promessa de acabar com guerras.

Quando questionado se a porta para a diplomacia ainda está aberta, Araghchi disse que "este não é o caso no momento". "Meu país está sob ataque, sob agressão, e temos que responder com base em nosso direito legítimo de autodefesa", afirmou durante uma coletiva de imprensa.

O governo do Irã considerou o ataque uma "violação grave e sem precedentes" do direito internacional e disse que defenderia seu território "com toda a força e meios". "O silêncio diante de uma agressão tão flagrante mergulharia o mundo em um nível sem precedentes de perigo e caos", acrescentou Aragchi.

Após a coletiva, o ministro viajou para Moscou para se reunir com o presidente Vladimir Putin para discutir a crise. "A Rússia é amiga do Irã, temos uma parceria estratégica e sempre nos consultamos e coordenamos nossas posições", disse.

Bloqueio

No Parlamento iraniano, os deputados da Comissão de Política Externa votaram a favor de uma resolução para bloquear o Estreito de Ormuz como resposta aos ataques. A recomendação foi entregue ao Conselho Supremo de Segurança Nacional e também precisa passar pelo crivo do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã.

A ameaça se refletiu com um novo aumento de 3,9% no preço do petróleo. O preço do barril chegou a US$ 80 pela primeira vez desde julho do ano passado. Desde que Israel atacou o Irã, há 11 dias, o barril de petróleo subiu mais de 10%.

Caso seja aprovado, não seria a primeira vez que o Irã bloquearia o local, que interliga o Golfo Pérsico ao Golfo de Omã. O país já agiu dessa forma em momentos de tensão anteriores, com a colocação de minas marítimas e ações ofensivas da Marinha de guerra. Os recentes ataques israelenses ao país, no entanto, podem ter diminuído essa capacidade.

Novas ameaças

Com a promessa de retaliação do Irã, autoridades de Israel e dos EUA realizaram novas ameaças contra o país. Em entrevista ao canal Fox News, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, declarou que um ataque de retaliação "seria o pior erro que eles poderiam cometer" e sugeriu a disposição para novos ataques. "Podemos voar para dentro e para fora do Irã à vontade", disse.

Rubio descartou que os EUA busquem uma mudança de regime no Irã por ora. A ideia voltou a ser sugerida ontem pelo próprio Trump em uma postagem na sua rede social. "Se o regime do Irã não é capaz de tornar O IRÃ GRANDE NOVAMENTE, por que não haveria uma mudança de regime", escreveu o presidente americano.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, elogiou a ação dos EUA e garantiu que o Exército israelense não pretende prolongar as operações no Irã, mas disse que estas serão encerradas somente quando "a ameaça nuclear e a ameaça de mísseis balísticos" chegar ao fim. As declarações foram seguidas de novos bombardeios israelenses. Um deles atingiu uma ambulância na cidade de Najafabad e matou várias pessoas.

Desde o início dos ataques, o aiatolá Ali Khamenei foi levado a um lugar seguro para evitar operações secretas israelenses ou americanas que podem matá-lo e nomeou sucessores. Na semana passada, Trump sugeriu que os EUA poderiam executar o aiatolá quando desejassem.

Ataque esperado

Imagens de satélite divulgadas pela Maxar Technologies indicam que o governo iraniano já esperava um ataque à central nuclear subterrânea de Fordow e agiu para protegê-la das megabombas americanas. Nos três dias anteriores ao bombardeio dos EUA, caminhões e escavadeiras trafegavam com frequência no túnel de entrada da instalação.

Ao menos 16 caminhões de carga estavam posicionados perto de um túnel de entrada em 19 de junho. No dia seguinte, eles se moveram para noroeste, afastando-se da instalação, mas outros caminhões e escavadeiras eram visíveis perto da entrada. Segundo uma análise do Open Source Centre, de Londres, o Irã poderia estar preparando a instalação para um ataque.

Essa suspeita se tornou ainda maior com as declarações de autoridades iranianas após o bombardeio americano. "O local foi esvaziado há muito tempo e não sofreu danos irreversíveis no ataque", declarou Mahdi Mohammadi, assessor do presidente do Parlamento do Irã, no X (antigo Twitter).

Radiação

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) convocou uma reunião de emergência para discutir o ataque americano ao Irã, mas declarou que não houve vazamento de radiação nos locais bombardeados.

O bombardeio às centrais nucleares com os aviões B-2 e as chamadas bombas "bunker buster", capazes de penetrar as instalações subterrâneas de Fordow e Natanz, ocorreu no começo da noite de sábado (no horário de Brasília) após Trump ter dito na quinta-feira que daria uma chance à diplomacia. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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