Política
17h00 16 Setembro 2025
Atualizada em 16/09/2025 às 17h00

Lula deve dar recado a Trump na ONU em tom 'leve' sobre soberania

Por Gabriel Hirabahasi e Aline Bronzati Fonte: Estadão Conteúdo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve aproveitar a audiência global da 80ª sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas para dar um recado ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em discurso que defenderá soberania, democracia e multilateralismo, apurou o Estadão/Broadcast. O tom a ser usado pelo brasileiro deve ser, contudo, mais ameno do que aquele adotado em um palanque eleitoral, evitando ataques diretos ao chefe da Casa Branca, apesar da atual crise entre os dois países.

Lula embarca para Nova York, nos Estados Unidos, no fim de semana, onde deve ficar até 24, quando retorna ao Brasil, segundo a agenda prevista até o momento. Além do discurso na ONU, na terça-feira, 23, ele participará de eventos paralelos. Na segunda-feira, 22, deve acompanhar a abertura da Semana do Clima de Nova York e uma reunião promovida pelos governos da França e da Arábia Saudita sobre a Palestina.

Como de praxe, o presidente brasileiro abre os discursos dos chefes de Estado na ONU, na terça-feira. Trump, por sua vez, deve falar na sequência, mantendo tradição de anos na Assembleia Geral. Diante da ordem das falas e do fato de discursar nos EUA, interlocutores esperam que Lula evite ataques frontais ao americano ao defender a soberania dos países.

Um experiente diplomata brasileiro observa ainda que depois do artigo de Lula no The New York Times, publicado no último domingo, 14, seria "complicado", o brasileiro "bater" em Trump. O brasileiro acusou o governo dos EUA de tentar garantir "impunidade" para o ex-presidente Jair Bolsonaro por meio da adoção de tarifas contra produtos brasileiros e de sanções da Lei Magnitsky.

Nos bastidores, interlocutores dizem que se cogitou evitar um eventual encontro entre Lula e Trump nos corredores da ONU, devido à turbulência na relação. As relações pioraram após a condenação de Bolsonaro, e porta-vozes do governo Trump ameaçaram o Brasil com novas sanções. Entre elas, estão a adoção de tarifas secundárias por conta da Rússia, embora o patamar atual, de 50%, já seja restritivo, suspensão de vistos de mais autoridades brasileira, além da extensão da Lei Magnitsky a outros ministros que votaram a favor da condenação de Bolsonaro e a familiares deles.

O secretário de Estado americano, Marco Rubio, prometeu uma resposta ao País para os próximos dias, ao conceder entrevista à Fox News, nesta segunda-feira. "Portanto, haverá uma resposta dos EUA a isso, e é isso - teremos alguns anúncios na próxima semana ou algo assim sobre quais medidas adicionais pretendemos tomar", disse.

Além disso, o governo Trump também está restringindo a concessão de vistos para a Assembleia-Geral da ONU, o que afeta a comitiva brasileira, conforme revelou o Estadão/Broadcast. Segundo fontes, Lula e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, estão com os seus vistos em dia, e devem ser mantidos, apesar do temor de alguns diplomatas quanto a novas sanções dos EUA ao Brasil.

Em reunião realizada em Nova York, na semana passada, os EUA informaram que estavam processando os vistos da delegação brasileira, conta uma fonte próxima às discussões. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já conseguiu obter visto diplomático para entrar no país. O pedido de renovação foi em agosto, já em meio às tensões provocadas pelo tarifaço de Trump.

Outro ponto em discussão é como será a parte do discurso de Lula sobre a defesa da democracia. Integrantes do governo ouvidos sob reserva dizem estudar se, em algum momento, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro será citado. O Estadão/Broadcast apurou que a referência não deve ganhar destaque, porque o discurso mira o público internacional, e não apenas o brasileiro, mas Lula deve mencionar que a Justiça brasileira reagiu recentemente em defesa do Estado Democrático.

Lula deve defender o reconhecimento do Estado da Palestina, tema recorrente em seus discursos desde o início do conflito na Faixa de Gaza. Também deverá reiterar a necessidade de uma solução pacífica para a guerra na Ucrânia, posicionamento que mantém desde o início do mandato. O convite a outros países para a 30.ª Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima (COP-30), em Belém, e a proteção do meio ambiente devem completar o discurso do presidente na Assembleia-Geral da ONU.

No dia seguinte à Assembleia-Geral da ONU, Lula presidirá um encontro sobre democracia. O presidente brasileiro também participa da Cúpula das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês), compromissos assumidos pelos países signatários do Acordo de Paris para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

Segundo o Itamaraty, ainda não estão definidas todas as reuniões bilaterais que o presidente brasileiro terá com chefes de Estado de outros países durante sua estada em Nova York. A único agenda já confirmada é o tradicional encontro do presidente brasileiro com o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, marcado para ocorrer logo antes de seu discurso na abertura da Assembleia Geral.

Encerrados os compromissos em Nova York, o presidente brasileiro deve conceder coletiva de imprensa na quarta-feira, 24, para apresentar um balanço da agenda, conforme apurou o Estadão/Broadcast. O retorno de Lula ao Brasil está previsto para ocorrer após a conversa com jornalistas.

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