Depois de sete anos sem eleições internas para o comando nacional, o PT prepara eleições diretas para escolher o presidente do partido, que já completou 45 anos de existência. Ao longo do tempo, a legenda já esteve na extrema esquerda, ao lado da "luta dos trabalhadores" e contra a exploração capitalista, e já se associou ao centro para poder governar. Caracterizou-se pelas mais de dez tendências que chegou a ter e por ser a sigla de um único comandante: Luiz Inácio Lula da Silva, o operário que saiu do chão da fábrica e virou presidente da República.
Agora, mesmo diante do desejo de Lula de ter uma candidatura unificada, cinco nomes - Edinho Silva, Valter Pomar, Romênio Pereira, Rui Falcão e Washington Quaquá - já se colocam na disputa pelo comando do partido.
Se depender de Lula e do atual interino, o senador Humberto Costa (PT-PE), os caciques petistas vão trabalhar para unir as candidaturas em torno do ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva, que já foi ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom) no governo de Dilma Rousseff.
Ainda na última quarta-feira, 7, Costa se reuniu com um dos candidatos, o prefeito de Maricá, Washington Quaquá, para conversar sobre a importância de unificar as candidaturas. "Edinho disse que tem o apoio do Lula, mas nunca ouvi o Lula falar que o apoia", comentou Quaquá.
Ele pretende falar com os demais nomes, como o deputado Rui Falcão (SP), que foi presidente do PT entre 2011 e 2017 e é um dos nomes mais experientes do partido. "Rui é um excelente nome, todos são. Mas não podemos chegar à eleição divididos. As reuniões devem acontecer com todos os candidatos, separadamente", afirmou Costa.
Já Falcão, ao falar de suas propostas para o partido, diz que "no curto prazo, até para garantir mudanças estruturais no Brasil, todo empenho está voltado para a reeleição do presidente Lula em 2026".
Segundo interlocutores no partido, ter um candidato único é um desejo do presidente Lula não apenas porque ele apoia Edinho - um político reconhecido pelas características de investir no diálogo e na conciliação -, mas porque acredita que esses ativos serão fundamentais para construir sua candidatura em 2026, caso resolva encarar um quarto mandato. A entrada de Rui Falcão no páreo, contudo, poderá fazer com que Lula reveja essa estratégia e adote um estilo mais discreto no apoio a Edinho. Afinal, segundo alguns petistas, o presidente é grato e tem um grande apreço por Falcão.
"A minha pré-candidatura não é de oposição a ninguém. O PT é um partido democrático e, como tal, naturalmente, tem suas contradições internas. Isso é saudável e fortalece o partido. Cada candidatura representa uma visão de partido e todas elas são legítimas e precisam ser respeitadas", disse Edinho.
A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, com outro perfil e que presidiu o partido nos seus piores momentos, como na prisão de Lula, agora teria como missão afinar as relações com o Congresso e destravar projetos que precisam ser votados, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
O 1º turno da eleição interna está marcado para 6 de julho. E o 2º turno, se ocorrer, será em 20 de julho. A regra aprovada em dezembro pelo Diretório do Nacional do PT diz que poderão participar do processo eleitoral os que se filiaram ao partido até 28 de fevereiro de 2025. Antes dessa nova resolução, o prazo mínimo de filiação era de um ano antes da eleição.
Segundo dados atualizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), até 4 de outubro de 2024, o PT tinha 1.653.361 filiados. O mandato de presidente do PT é de 4 anos, sendo permitida até uma reeleição. Essa regra vale também para presidentes de diretórios estaduais e municipais. Trata-se de uma regra interna na legenda. Na lei brasileira, nada impede partidos de reelegerem seus dirigentes indefinidamente.