Conflitos
16h30 12 Agosto 2025
Atualizada em 12/08/2025 às 16h30

Netanyahu diz que vai autorizar a emigração de palestinos da faixa de Gaza

Por Redação, O Estado de S. Paulo Fonte: Estadão Conteúdo

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse nesta terça-feira, 12, que irá autorizar que habitantes saiam da Faixa de Gaza e se mudem para o exterior.

A medida vem a público depois de Israel ampliar a ofensiva militar dentro do território palestino e do aumento da crise de fome no local, em meio à guerra contra o grupo terrorista Hamas. Aliados de Netanyahu defendem a expulsão dos palestinos de Gaza e a ocupação da faixa por colonos judeus.

Perguntado durante uma entrevista ao canal de TV internacional I24 News sobre a possível emigração de habitantes de Gaza para o exterior, Netanyahu avaliou que "isto ocorre em todos os conflitos". "Nós os autorizaremos, durante e depois dos combates", afirmou, acrescentando: "Não os estamos expulsando, mas permitindo que saiam, e é isso que está acontecendo."

"Na Síria, milhões partiram, na Ucrânia, milhões partiram, no Afeganistão, milhões partiram. E de repente eles [a comunidade internacional] decidem que os civis em Gaza devem ficar presos? Dê-lhes a oportunidade de sair, antes de tudo, das zonas de combate e, em geral, de deixar o território, se assim o desejarem", argumentou o primeiro-ministro.

"Estamos conversando com vários países anfitriões em potencial; não posso entrar em detalhes aqui." Mas "o mais natural, para todos aqueles que falam, aqueles que afirmam se importar com os palestinos e querem ajudá-los, é abrir suas portas", continuou.

Sob as ordens do gabinete militar de Netanyahu, o Exército israelense está se preparando para lançar uma nova fase de suas operações militares em Gaza alegado resgatar todos os reféns israelenses e derrotar o Hamas, de acordo com seus objetivos declarados.

O Exército pretende assumir o controle da Cidade de Gaza e dos campos de refugiados próximos, uma das áreas mais densamente povoadas do território palestino.

O anúncio desse plano foi condenado por grande parte da comunidade internacional, enquanto a ONU alertou para uma "nova calamidade" com graves consequências regionais.

Conversas com o Sudão do Sul

A Associated Press havia noticiado mais cedo que Israel estava em discussões com o Sudão do Sul sobre a possibilidade de reassentar palestinos de Gaza. Seis pessoas familiarizadas com o assunto confirmaram as negociações à agência.

Não está claro até que ponto as negociações avançaram, mas, se implementadas, os planos equivaleriam à transferência de pessoas de uma terra devastada pela guerra e em risco de fome para outra, levantando preocupações com os direitos humanos.

O país vive uma crise humanitária grave e está em um cenário de guerra civil, segundo reportou a ONU em março deste ano.

Netanyahu diz que quer concretizar a visão do presidente americano Donald Trump de realocar grande parte da população de Gaza por meio do que ele chama de "migração voluntária". Israel apresentou propostas de reassentamento semelhantes a outras nações africanas.

Palestinos, grupos de direitos humanos e grande parte da comunidade internacional rejeitaram as propostas alegando ser um modelo para expulsão forçada, em violação ao direito internacional.

Para o Sudão do Sul, tal acordo poderia ajudá-lo a estreitar laços com Israel, agora a potência militar quase incontestável do Oriente Médio. É também um potencial avanço para Trump, que abordou a ideia de reassentar a população de Gaza em fevereiro, mas parece ter recuado nos últimos meses.

O Ministério das Relações Exteriores de Israel não quis comentar, e o ministro das Relações Exteriores do Sudão do Sul não respondeu a perguntas sobre as negociações. Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA afirmou que o país não comenta conversas diplomáticas privadas.

Duas autoridades egípcias disseram à AP que sabem há meses dos esforços de Israel para encontrar um país que aceite palestinos, incluindo seus contatos com o Sudão do Sul. Elas disseram que vêm pressionando o Sudão do Sul contra a recepção dos palestinos.

Israel em julgamento: o país pode investigar seus próprios crimes de guerra?

O Egito se opõe profundamente aos planos de transferir palestinos para fora de Gaza, com a qual compartilha uma fronteira, temendo um fluxo de refugiados para seu próprio território.

A AP noticiou anteriormente conversas semelhantes iniciadas por Israel e pelos EUA com o Sudão e a Somália, países que também enfrentam guerra e fome, e com a região separatista da Somália conhecida como Somalilândia. O status dessas discussões é desconhecido.

Muitos palestinos talvez queiram deixar Gaza, pelo menos temporariamente, para escapar da guerra e de uma crise de fome que beira a inanição. Mas eles rejeitaram categoricamente qualquer reassentamento permanente do que consideram parte integrante de sua terra natal.

Eles temem que Israel nunca lhes permita retornar, e que uma retirada em massa permitiria anexar Gaza e restabelecer assentamentos judaicos ali, conforme solicitado pelos ministros de extrema direita do governo israelense.

Ainda assim, mesmo os palestinos que querem sair provavelmente não tentarão a sorte no Sudão do Sul, um dos países mais instáveis e conflitantes do mundo.

O Sudão do Sul tem lutado para se recuperar de uma guerra civil que eclodiu após a independência, que matou quase 400 mil pessoas e mergulhou áreas do país na fome. O país rico em petróleo é assolado pela corrupção e depende da ajuda internacional para alimentar seus 11 milhões de habitantes - um desafio que só aumentou desde que o governo Trump implementou cortes drásticos na assistência externa.

Um acordo de paz alcançado há sete anos foi frágil e incompleto, e a ameaça de guerra retornou quando o principal líder da oposição foi colocado em prisão domiciliar este ano. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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